Ação colaborativa fortalece safra de castanha 2016 em Mato Grosso
O início da Safra de castanha 2016 no Noroeste de Mato Grosso (Município de Apiacás) está sendo uma lição de formação de redes e colaborações para que cerca de 10 toneladas de castanha não se perca em terras dos povos Apiacá e Munduruku. Isso porque, devido a distância dos castanhais até o local de armazenamento, os grupos indígenas teriam que fretar um veículo para o transporte da Castanha, o que teria um custo de pelo menos R$ 6.500,00 com o frete de um caminhão particular para cada viagem e, esse valor, oneraria o preço final do produto retirando lucro do extrativista, que teria que desembolsar mais para custear o frete.
Visando baratear esse custo, e consolidar uma rede de trabalho justa e colaborativa, o Projeto Sentinelas da Floresta (PSF), administrado pela Cooperativa Vale do Amanhecer (COOPAVAM) e patrocinado pelo Fundo Amazônia, disponibilizou o caminhão adquirido pelo projeto, para que os indígenas transportassem as castanhas até o barracão construído dentro da TI Apiaka-Caiaby, local onde também acontece a venda direta do produto.
Segundo Paulo Nunes, coordenador do Projeto Sentinelas da Floresta, patrocinado pelo Fundo Amazônia, essa foi uma alternativa de ação colaborativa, já que neste momento, a Coopavam – instituição que gerencia o Sentinelas da Floresta e adquire as castanhas dos extrativistas – não tem capital de giro suficiente para comprar toda a castanha que os indígenas estão coletando. “Esta castanha está sendo transportada para um dos barracões que o PSF construiu. Com a utilização do caminhão, eles pagam somente o combustível e a diária do motorista, que talvez não chega a R$ 2.000,00. Essa formação de rede de colaboração, solidária e justa, é a maneira que encontramos de auxiliar os Apiacá e Munduruku, pois sabemos que a castanha hoje, é a principal fonte de renda de muitas famílias indígenas”.
Além do auxílio na extração da Castanha, o Sentinelas da Floresta também está documentando através do audiovisual as atividades, um trabalho importante para a memória do projeto que pode ser replicado em outras regiões e para povos indígenas do país. “Existe uma grande procura de outros povos indígenas ao projeto. Muitos deles querem integrar o Sentinelas, comercializar suas castanhas e até mesmo implantar ações semelhantes. Porém precisamos de capacidade estrutural e econômica para atender essa demanda que tem aumentado a cada dia, explica Nunes.
Segundo ele, o desafio agora é comercializar toda a produção e seus derivados, já que além dos indígenas, outras famílias e grupos de Mulheres do noroeste também trabalham com este alimento e já vem produzindo produtos como barra de cereais, macarrão, biscoitos, farinhas e óleos para comercialização no atacado e varejo. Sob outro ponto de vista, Manilda Krixi, do povo Munduruku, explica que o trabalho desenvolvido com a castanha traz outros benefícios para os Munduruku.
Além do retorno financeiro, faz com que a comunidade pense na alimentação durante a coleta da castanha. Ela explica que a alimentação industrializada é muito ruim e está introduzida na dieta da sua comunidade, porém, dentro da sua tradição, a castanha é utilizada para tudo na alimentação. Preparam comidas diversas, como o bolo e o beiju e isso é importante repassar para as crianças. Krixi afirma que percebe que os não indígenas tem se interessado mais na alimentação tradicional indígena e valorizado o seu consumo, o que tem sido muito bom para os Munduruku valorizarem ainda mais seus próprios alimentos, e dessa forma, continuem coletando a castanha, não só pensando na comercialização, mas também, reforçando o seu consumo no dia a dia das aldeias.